BDRs: o que são e será que vale a pena investir?
Desde que a B3 liberou o acesso de investidores pessoas físicas às BDRs (regra alterada pela CVM) em agosto de 2020 o mercado mudou bastante.
Antigamente somente instituições financeiras, fundos de investimento e pessoas físicas ou jurídicas com investimentos financeiros superiores a R$ 1 milhão podiam fazer esse tipo de investimento.
Esse número mudou bastante em setembro de 2020 e tende a mudar ainda mais no futuro.
Mas afinal, o que são as BDRs? Como elas funcionam? Vale a pena comprar?
O que são BDRs?
O termo BDR vem de Brazilian Depositary Receipts (acho que o nome foi escolhido em inglês pela B3 para manter o DR que costuma ser usado em todo o mundo).
São nada menos do que ações listadas aqui no Brasil, mas que possuem um lastro no país em que a ação é negociada.
Isso significa que quando você compra uma BDR, você está comprando uma ação aqui no Brasil que representa um outra ação (ou parte dela, explico mais para frente) lá fora.
Como funciona uma BDR na prática?
O que acontece na prática é que o depositário (empresa que emite os BDRs no Brasil) fecha um acordo com um custodiante no país de origem das ações.
Esse acordo serve para guardar ações que o depositário irá comprar na emissão dos BDRs.
Além disso, cuida de todos os processos legais para que as ações fiquem lastreadas aqui no Brasil ou sejam canceladas.
Não existem muitos depositários hoje no Brasil. A grande maioria das BDRs tem como depositário a própria B3, Itaú ou Bradesco.
O que são os níveis I, II, e III das BDRs?
Apesar da B3 ter criado diversos níveis para as BDRs (que sempre deixam a gente confuso), a verdade é que somente uma delas é utilizada pelo mercado, que são as BDRs não patrocinadas de nível I.
A última vez que eu olhei na B3 para você ter noção, existia somente 1 BDR nível II e 4 BDRs nível III.
Convenhamos, é muito pouco comparado a centenas de BDRs não patrocinadas que existem hoje.
Mas segue aqui um resumo básico deles:
Tipo | Oferta pública | Registro na CVM |
---|---|---|
Nível I não patrocinado | Esforços restritos | Não necessita |
Nível I | Esforços restritos | Não necessita |
Nível II | Esforços restritos | Necessita |
Nível III | Obrigatória | Necessita |
Como antigamente as BDRs de nível I não patrocinadas não podiam ser compradas por investidores comuns, esses níveis tinham uma maior importância.
Hoje em dia eles ficaram bem desatualizados, sendo que somente o nível I e o nível II realmente tem alguma diferença significativa (talvez a B3 mude isso em algum momento no futuro).
Como comprar uma BDR?
Comprar uma BDR é um processo muito simples.
Você basicamente fará o mesmo processo que faz para comprar uma única ação.
Assim, você só precisa saber qual o ticker da empresa que você pretende comprar a BDR e enviar a ordem.
Ah e no mercado de BDRs você pode comprar até mesmo 1 única BDR, diferente do mercado de ações que o lote mínimo são 100 ações.
Quais são as BDRs mais negociadas na B3?
A B3 produz todo mês um relatório sobre as BDRs que, além de várias coisas interessantes, também mostra quais são as BDRs mais negociadas da Bolsa de Valores.
Mas se, por exemplo, você quiser ver o desempenho de uma BDR específica ou saber qual o valor total em BDRs dessa empresa (para entender melhor se existe algum risco do programa ser cancelado) você pode olhar nessa página aqui.
Ao escolher uma empresa, você já consegue ver o “market cap” dela em BDRs e caso você queira saber o volume de negociação, basta clicar em “Histórico de cotações”.
Quais são os custos de uma BDR?
Existem alguns custos envolvidos na hora de comprar uma BDR, eu separei eles em 3 partes.
B3 (igual ações)
Os custos na hora de comprar uma BDR pelo Home Broker seguem iguais aos de fazer uma compra de ações.
Em relação a isso você pode ficar tranquilo que não tem nenhum custo escondido.
Emissão e cancelamento
Caso você participe da emissão de uma BDR, isto é, quando o depositário vai fazer a compra das ações no mercado internacional, você provavelmente pagará uma taxa nesse processo.
Em caso de cancelamento, que é quando você vende o lastro das suas BDRs, você também paga uma taxa por isso.
O ideal é somente comprar e vender dentro do mercado nacional para não gastar com taxas desnecessárias.
Dividendos
Os dividendos também são taxados pelo depositário, que costuma cobrar em torno de 3% a 5% dos dividendos antes de repassá-los para você.
Quais são os impostos das BDRs?
Compra/venda
Os impostos cobrados pelas BDRs na compra e na venda são iguais aos de ações (15%).
O único problema é que a Lei 9.250 só tem a isenção de imposto de até 20 mil reais para ações.
Caso você tenha interesse em comprar e vender BDRs no curto prazo, certifique-se de que será um valor alto, caso contrário, é melhor fazer essa estratégia com ações.
Dividendos
Os dividendos das BDRs, ao contrário dos dividendos de ações, são tributados.
Isso significa que toda vez que você recebê-los terá que pagar uma DARF (caso exceda a tabela de IR).
É possível, dependendo do país de origem da empresa pedir uma isenção do imposto de renda pago lá, mas isso nem sempre é possível ou fácil de fazer (eu mesmo não encontrei muita informação sobre isso).
O que devo me preocupar na hora de comprar uma BDR?
Juntei alguns pontos que costumam me chamar atenção na hora de comprar uma BDR, talvez existam outros, mas esses para mim são os mais importantes.
Liquidez
A liquidez do papel costuma ser muito importante para um investidor pequeno.
Isso acontece porque caso o investidor não consiga vender suas BDRs no mercado por um preço justo, ele terá que fazer um cancelamento.
O problema é que só é possível cancelar BDRs inteiras, isto é, cancelar uma quantidade de BDRs que represente um número inteiro no país de origem.
Logo, se você não conseguir alcançar um número inteiro, não conseguirá cancelar sua BDR.
Além disso, você terá que pagar uma taxa de cancelamento para a instituição que fez a emissão da BDR (comentei ali em cima).
Emissora
Apesar de eu ter falado que a maioria das BDRs são administradas por B3, Itaú e Bradesco, pode ser que alguma das BDRs que você está procurando não sejam administradas por um player grande do mercado.
Assim, mesmo que você não corra nenhum risco com a falência da instituição, pode ser que você tenha alguma dor de cabeça durante esse processo.
Paridade
A paridade é nada mais, nada menos, do que a relação de quantas BDRs representam uma ação no país de origem.
Uma paridade de 1:1 significa que uma BDR representa exatamente uma ação dessa empresa no país de origem (algo um pouco incomum de acontecer).
Esse tipo de informação é muito importante para o investidor entender se o preço no mercado brasileiro está fora do padrão de origem.
Como as BDRs têm um volume de negociação muito menor do que lá fora, o preço no mercado brasileiro sempre deverá obedecer a cotação de fora (com exceções em caso do mercado lá fora estiver fechado).
Assim, caso uma alta demanda por uma BDR faça o preço divergir do mercado original, o ideal é aguardar algum arbitrador do mercado fazer novas emissões e vender essas novas emissões no mercado nacional para que o preço volte ao normal.
Para saber qual é a paridade da BDR que você está olhando, você pode olhar no site das grandes instituições emissoras.
- Paridade das BDRs emitidas pela B3 (clicar em “Programas”)
- Paridade das BDRs emitidas pelo Itaú
- Paridade das BDRs emitidas pelo Bradesco (o Bradesco tem um péssimo site para verificar isso, boa sorte!)
O que acontece se o depositante de BDR falir?
A chance de um dos 3 grandes depositários de BDRs no Brasil falir é muita pequena.
Mas pode acontecer, por exemplo, de uma dessas instituições não ter mais interesse em manter uma dessas BDRs e cancelar o programa.
Nesse caso, a instituição informa os acionistas do procedimento, no qual eles têm até 30 dias para se manifestar e liquidar o ativo.
Sim, é péssimo ter uma ação sua vendida contra a sua vontade, mas no caso das BDRs isso pode acontecer.
Provavelmente, se você comprar empresas muito negociadas na Bolsa de Valores, isso não vai ser um problema, mas dependendo da ação isso pode acontecer.
Os depositários também costumam dar a opção para o investidor manter os ativos no país de origem da ação, mas esse processo nem sempre costuma interessar muito o investidor brasileiro.
Afinal, vale a pena comprar BDRs?
Eu vou deixar aqui embaixo as situações em que eu compraria BDRs, as situações em que não compraria BDRs e uma última resposta para a pergunta “É melhor abrir a conta em uma corretora no exterior ou comprar BDRs?”.
Espero que eu possa te ajudar nessa missão.
Porque eu não compraria BDRs
Para quem procura empresas que pagam dividendos isso pode ser um grande problema.
No caso, você vai acabar pagando esse imposto duas vezes (imposto de renda do exterior retido na fonte e imposto de renda brasileiro) e ainda vai pagar uma taxa para a instituição depositante.
A chance de que no final de todo esse processo o resultado seja melhor do que comprar ações brasileiras é bem baixa.
É possível, claro, que existam algumas exceções, mas eu não contaria com muito com essa possibilidade.
Além disso, existe o problema da liquidez e o risco do programa ser cancelado, logo, eu também não compraria BDRs que possuem um “market cap” pequeno aqui no Brasil.
Por último, eu também não compraria BDRs com o intuito de comprar pequenos lotes e vender no curto prazo, já que as BDRs não têm isenção de imposto igual as ações (menos que 20 mil reais, no caso).
Porque eu compraria BDRs
Eu compraria BDRs de empresas que tivessem alto potencial de crescimento e que de preferência não pagassem ou pagassem pouquíssimos dividendos.
Essa estratégia costuma ser um pouco mais arriscada (comprar ações que não pagam dividendos) e eu pessoalmente aqui no blog raramente defendo esse modelo, mas caso você tenha interesse, as BDRs são uma boa opção.
Por fim, nessa estratégia de investimento você teria basicamente os mesmos custos de comprar uma ação no Brasil (o que convenhamos, é ótimo).
Plano B: abrir uma conta no exterior para investir em ações
Essa dúvida é bem relevante para a maioria dos investidores.
Como as BDRs possuem o risco do programa ser cancelado ou falta liquidez no mercado, caso você abrisse uma conta no exterior esses dois problemas seriam totalmente eliminados.
O grande problema de abrir uma conta em uma corretora lá fora está em enviar e trazer o dinheiro.
Esse tipo de operação geralmente possui uma tarifa fixa, que acaba atrapalhando bastante quem faz pequenos aportes ou que recebe dividendos (os dividendos geralmente são quantias ainda menores do que os aportes).
Por isso, essa opção na minha opinião só é válida caso você faça grandes aportes (que não necessariamente precisam ser feitos todos os meses) e além disso, não traga o dinheiro de volta para o Brasil.
Eu conheço muito pouco o processo de abertura de conta corrente e emissão de cartões de crédito no exterior, mas essa seria uma boa saída para você não ter que pagar duas vezes o imposto de renda (como eu comentei lá em cima) e também não pagar pela transferência de dinheiro.
Ainda assim, eu imagino que essa situação (abrir conta no exterior) se aplique a pouquíssimas pessoas.
Quer aprender mais sobre investimentos?
Aqui no blog eu sempre comento a minha opinião nos artigos e acho que isso faz toda diferença para você entender melhor os assuntos de investimentos.
Particularmente eu detesto ler aqueles artigos produzidos por empresas que são totalmente neutros e sem experiência alguma no processo.
Por isso, se você gostou desse artigo, acho que vai gostar de outros que eu já escrevi…
Vou deixar aqui alguns que costumam ter bastante acessos aqui no blog para você dar uma olhada.
- Quais são as maiores pagadoras de dividendos da B3?
- O que é RLP e por que eu acho que deveria ser proibido?
- Como montar uma carteira de investimento para vida?
Até mais!