Commodities: o que são e como funciona a comercialização?
Você provavelmente já deve ter ouvido falar muito de commodities no colégio, faculdade ou nos sites de notícia.
Mas sempre aparece alguma dúvida sobre o assunto que ninguém sabe muito bem responder.
Apesar das commodities parecerem algo bem simples, existem diversas questões envolvidas que podem passar despercebidas.
Vou tentar te ajudar um pouco nessa missão e te explicar tudo que você precisa saber.
Vamos lá?
Antes de mais nada, o que são commodities?
Commodities são basicamente produtos vendidos em larga escala e que não diferem de um para o outro, independente da empresa que os produz.
Por exemplo, o milho.
O milho produzido no mundo inteiro segue um padrão de preço internacional.
Evidente que o milho enlatado ou qualquer milho um pouco mais sofisticado não segue esse preço, mas ainda assim, boa parte do custo dele está relacionado ao preço do milho internacional.
Por último, não importa muito se a sua cidade começou a comprar um pouco mais de milho, o preço dele sempre tende a seguir a cotação internacional.
Mas nem sempre é tão simples assim…
Variações nas commodities
Apesar desse padrão ao redor do mundo, as commodities ainda podem ter variações.
Essas variações geralmente são determinadas pelas Bolsas de Valores.
As variações mais comuns referem-se à origem do produto ou ao local de entrega.
Sendo o petróleo um dos casos mais famosos de variação.
Existem dois principais contratos que são comercializados no mundo inteiro, o primeiro deles é o WTI (Western Texas Intermediate) e o segundo é o Brent.
Veja um pouco sobre a diferença entre eles:
WTI | Brent |
Origem dos Estados Unidos | Origem da Inglaterra |
39,6° de gravidade de API | 38° de gravidade de API |
0,24% Conteúdo sulfúrico | 0,40% Conteúdo sulfúrico |
Liquidação física | Liquidação física/financeira |
Essa diferença, inclusive, impacta na cotação desses dois contratos, veja com o Brent sempre foi cotado um pouco acima do WTI:
Existem mais variações para o petróleo e para outras commodities em geral.
Tudo sempre depende do fato dessa diferença ser perceptível para a sociedade e existir uma demanda grande para o produto.
Eu peguei algumas outras commodities que possuem variação para você entender melhor:
Local | Commodity | Tipo 1 | Tipo 2 |
---|---|---|---|
Brasil | Café | Café Arábica 4/5 | Café Arábica 6/7 |
Estados Unidos | Soja | Óleo de soja | Soja |
Estado Unidos | Carne bovina | Gado vivo | Gado alimentador |
Europa | Açúcar | Açúcar N° 11 | Açúcar N° 16 |
Quais são as commodities mais importantes para o Brasil?
O Brasil sempre foi um grande exportador de commodities, principalmente no segmento agrícola.
Eu peguei os dados de 2020 para você ter uma ideia do quanto o Brasil exporta em dólares de cada produto.
Apesar disso, nem todos os produtos necessariamente são negociados na Bolsa de Valores.
Por exemplo, o segmento de frango e de farelos não costuma figurar entre as maiores operações.
Como as commodities são comercializadas?
A maioria das commodities são comercializados por contratos entre a empresa produtora e a empresa compradora.
Mas elas também podem ser compradas pela Bolsa de Valores.
Como funcionam as negociações na Bolsa de Valores?
Existem duas maneiras de se negociar commodities na Bolsa de Valores.
A primeira delas é através compra futura em que você tem a opção de comprar uma commodity hoje e recebê-la daqui 2, 4, 6 meses (ou qualquer que seja o padrão do contrato).
Mas também é possível somente receber o dinheiro envolvido na operação.
Deixa eu explicar um pouco melhor esses dois processos.
Opção de entrega física
A opção de receber a commodity na sua “casa” (pequena ironia) é bastante simples.
Uma empresa vai na Bolsa de Valores e compra “XX” sacas de café para receber daqui 6 meses em um endereço específico.
A única questão é que aqui no Brasil não existem muitos contratos assim, os únicos que têm o recebimento físico da mercadoria são:
- Café Arábica 4/5
- Café Arábica 6/7
- Etanol Anidro
- Ouro
Opção de liquidação financeira
Os contratos por liquidação financeira geralmente acontecem quando a empresa já tem fornecedores definidos, mas não consegue comprá-los com antecedência.
Nesse caso, ela vai na Bolsa de Valores e fecha o valor futuro da mercadoria, como se fosse uma compra antecipada.
Assim, caso o preço da commodity suba na data em que ela for fazer a compra com o fornecedor, ela vai receber essa diferença positiva pelo seu contrato na Bolsa de Valores.
Por que é tão importante se proteger do futuro?
A grande maioria das empresas utiliza a liquidação financeira para se proteger de algum desastre natural ou queda forte na demanda.
Para você ter uma ideia de como esses incidentes impactam a vida das empresas, eu peguei um exemplo muito famoso do Starbucks (caso você não saiba, é uma famosa rede de cafés americana).
Incidente envolvendo o Starbucks
O Starbucks passou por sérios problemas em 1994 quando o preço do café chegou a subir mais de 100%.
Essa história inclusive foi contada no livro escrito pelo fundador do Starbucks, Howard Schultz, chamado “Dedique-se de coração“.
Na época do incidente, aconteceu uma geada no Brasil e isso fez com que o preço do café subisse drasticamente.
A questão era o seguinte, o Starbucks não comprava café brasileiro, mas como eu disse lá em cima, o preço das commodities acaba sendo definido pelo mercado internacional.
Logo, se a produção de café diminuiu (o Brasil sempre foi um grande produtor mundial), o preço do café sobe em todo o mundo.
Eu montei um gráfico que mostra como a alta no preço do café fez com que o preço das ações do Starbucks caísse quase 30% em 1994.
O Starbucks tinha uma pequena proteção em relação ao preço do café, mas como não foi suficiente, a empresa acabou tendo que aumentar o preço do seu café vendido nas lojas algumas vezes (além de algum prejuízo).
Quais são as maiores bolsas do mundo para commodities?
Apesar do Brasil ser um dos maiores exportadores de commodities do mundo, a B3 (bolsa brasileira) quase não comercializa commodities.
Para você ter uma ideia, o Brasil exportou quase metade da soja do mundo em 2019.
Isso faz com que o Brasil tenha uma forte influência sobre o preço da soja, mas não o suficiente para que os contratos sejam negociados aqui.
Existem vários motivos que explicam isso, mas no geral, os contratos costumam ser negociados nas bolsas que estão próximas do mercado consumidor (EUA e Europa).
Bom, eu peguei alguns dados para você visualizar melhor o tamanho dessas “outras bolsas”.
CME e ICE
As duas maiores Bolsas de Valores de commodities na verdade são empresas que são donas de várias outras Bolsas de Valores.
A primeira delas é a CME (Chicago Mercantile Exchange) que é dona da CME, NYMEX, CBOT, COMEX.
Já a segunda, ICE (Intercontinental Exchange), tem tantas outras bolsas de commodities que a lista não caberia aqui.
Essas duas empresas dominam o mercado de commodities no mundo.
Mas e a bolsa brasileira?
Como eu disse ali em cima, a bolsa brasileira tem pouquíssimas operações commodities.
No geral, as operações que acontecem aqui seguem o preço internacional ou servem para facilitar operações menores e mais específicas.
Dê uma olhada na diferença de operações que são realizadas por dia em cada uma dessas Bolsas de Valores que eu citei:
Contratos fechados por dia por segmento (22/01/2021)
Segmento | CME | ICE | B3 |
---|---|---|---|
Energia | 2.003.410 | 3.235.708 | 270 |
Agricultura e metais | 2.812.713 | 393.367 | 10.662 |
Quais são as commodities mais comercializadas nas Bolsas de Valores?
Não existe exatamente um ranking sobre esse assunto.
Sem contar que existem tantas bolsas de commodities pelo mundo inteiro que seria bem difícil eu conseguir esse número exato.
Mas o que eu fiz foi somar os contratos das duas maiores bolsas de commodities (CME e ICE) para você ter uma ideia de quais são os principais produtos comercializados.
Veja como ficou:
Contrato | Contratos negociados por dia | Contratos em aberto |
---|---|---|
Brent (petróleo) | 949.377 | 4.936.544 |
WTI (petróleo) | 834.287 | 3.116.453 |
Gás natural da América do Norte | 683.468 | 21.647.430 |
Milho | 468.978 | 1.910.924 |
Gás natural Henry Hub | 337632 | 1.136.423 |
Ouro | 303.043 | 551.108 |
Soja | 254.518 | 928.633 |
É possível operar no mercado de commodities?
Antes de mais nada, “operar” significa comprar e vender ativos em um curto período de tempo.
Logo, operar no mercado de commodities, seria tentar ganhar dinheiro de alguma maneira comprando commodities e vendendo elas por um preço mais caro em um período curto de tempo (pode ser na ordem inversa também).
É bem capaz que você tenha visto algum tipo de conteúdo sobre isso, já que as corretoras estão sempre incentivando essa atividade.
Mas eu já escrevi um artigo inteiro sobre isso e posso te adiantar que a maioria das pessoas que tentam fazer esse tipo de operação perdem dinheiro.
Agora voltando a questão específica das commodities…
Operar no mercado de commodities brasileiro é muito complicado pelo fato dos contratos seguirem os preços internacionais e terem baixa liquidez.
Logo, mesmo que alguém apareça comprando grandes quantidades de um contrato, isso não significa que o preço vai subir.
A reação do mercado aqui está condicionada ao desempenho das commodities no exterior e isso pode atrapalhar bastante alguém que procura “padrões de mercado”.
E por último, mas não menos importante…
Perigo na hora de operar commodities com entrega física
Para quem pensa em operar em contratos com entrega física do produto, é bom pensar duas vezes antes.
No começo de 2020, quando a crise do coronavírus explodiu, os contratos de petróleo (WTI) chegaram a bater valores negativos de -37 dólares.
Isso aconteceu porque ninguém queria receber o petróleo e mesmo que recebesse, não seria possível estocá-lo.
Como a demanda mundial caiu, o petróleo acabou sendo estocado até que não houvesse mais espaço.
Assim, além do prejuízo que a operação deve ter dado, imagino que ter que receber o petróleo e ainda ter que resolver questões de logística não deve ter saído nada barato.
Entendo melhor o mercado financeiro
O mercado financeiro pode ser bastante confuso no geral.
E um dos motivos de eu começar a escrever foi justamente por não encontrar essas respostas na internet.
Na verdade, para eu trazer essas respostas para você, eu li centenas de livros do mercado financeiro.
Vou deixar alguns artigos aqui embaixo que eu acho que você pode gostar:
- O que são bonds? Vale a pena investir?
- Para que serve o benchmark? Como eu escolho o melhor?
- Como funciona o mercado de balcão?
Até mais!
*Eu recebo uma pequena comissão da Amazon pelas indicações dos livros que eu faço no blog. Essa é uma forma singela de remunerar o meu trabalho aqui.
PS: Eu não recomendo livros que não tenha lido.