Reserva de emergência: o que é e será que você precisa ter uma?
Eu já cansei de ver sites e especialistas de investimento falarem sobre reserve de emergência.
A maioria sempre fala de uma fórmula do tipo “Guarde dinheiro suficiente para sobreviver durante 6 meses”.
Existem alguns um pouco mais espertos que dizem para você guardar mais dependendo da maneira como você obtém sua renda mensal do tipo “Guarde dinheiro para 1 ano se for empreendedor”.
Mas a verdade é que a vida é um pouco mais complicada do que isso.
Talvez esses “especialistas” usam uma fórmula básica para se ser algo facilmente entendido pelas pessoas, mas se você já entendeu o básico… pode passar para o avançado agora, concorda?
Antes de mais nada, o que é reserva de emergência?
Na verdade, a parte mais importante aqui é entender o que não é a reserva de emergência.
A reserva de emergência não é a mesma coisa que reserva de oportunidade.
Esse geralmente é usado em momentos, por exemplo, em que a Bolsa de Valores cai (e claro, você continua com o seu emprego) ou quando você pretende usar esse dinheiro para abrir um negócio.
Já a reserva de emergência geralmente é usada para quando você perde o emprego, tem algum problema na justiça ou precisa bancar alguns gastos de saúde.
Se você quiser entender melhor sobre a outra reserva (de oportunidade) pode dar uma olhada nesse artigo que eu escrevi, ele vai ter uma boa noção de quando vale a pena ou não guardar esse dinheiro.
Por que você não deve seguir uma fórmula de reserva de emergência?
O grande problema das fórmulas (e o motivo de eu detestá-las) é que as pessoas tem vidas muito diferentes.
Vamos imaginar aqui duas pessoas, ok?
A primeira delas é uma jovem que acabou de se formar e vive na casa dos pais e a outra é uma mulher que trabalha em um banco de investimento, que tem dois filhos e ainda mora de aluguel (com um contrato de longo prazo).
Evidente que a mulher precisa ter uma reserva que dure muito mais tempo.
Veja bem, não se trata somente de guardar dinheiro para viver 6 meses, já que o recém formado precisaria de bem menos dinheiro.
Mas existe um problema pelo fato de a mulher ter obrigações de longo prazo e o jovem não.
Logo, não adianta só diminuir o quanto ele guarda e dizer que os dois precisam ter dinheiro para viver 6 meses (ou 1 ano).
O que você deve avaliar para montar sua reserva?
Existem dois pontos principais que eu vejo na hora de montar a sua reserva de emergência.
São eles: obrigações e risco.
Mas vamos entender melhor eles…
Suas principais obrigações
As obrigações fazem uma enorme diferença na hora de avaliar o tempo correto para a sua reserva de emergência.
Como no exemplo que eu dei acima, a mulher por ter filhos e pagar aluguel tem uma enorme obrigação com o futuro e não pode nem pensar em ficar sem renda.
Já o jovem que ainda mora na casa dos pais não tem obrigação nenhuma (talvez sair com os amigos no fim de semana).
Mas afinal, quais são as obrigações mais importantes e que valem a pena serem colocadas na conta?
A minha tabela não tem pontos (explico mais abaixo), mas tem o nível de preocupação “esperado”.
Obrigação | Nível de preocupação |
Saúde dos pais | Alto |
Saúde pessoal | Médio/alto |
Saúde dos filhos(a) | Médio |
Aluguel | Médio |
Viagem marcada | Baixo |
Parcelas do carro | Baixo |
Parcelas do apartamento | Baixo |
Pós-graduação e outros | Baixo |
Separação | NA |
Idade | Somente para funcionários da iniciativa privada |
A saúde acaba sendo uma questão muito particular, somente você será capaz de analisar se é uma questão que precisa de um bom dinheiro ou não.
Já em relação a parcelas de carro e apartamento, você pode até se desfazer do bem caso precise.
O problema é que geralmente você acaba perdendo dinheiro quando isso acontece, porque o carro desvaloriza e o apartamento você precisa vender rápido por um preço nem sempre muito interessante.
Por fim, eu poderia colocar uma escala ou uma pontuação para cada um desses fatores e chegar na nossa famosa fórmula (o que me faria uma pessoa muito rica), mas eu preferi deixar essa decisão com você.
Mas calma, eu ainda vou dar alguns exemplos práticos sobre isso, assim você não vai ficar tão perdido.
Seu risco de perder sua renda mensal
Podemos dividir esse público em 3, sendo eles: funcionários públicos (e militares), funcionários da iniciativa privada e empreendedores (autônomos, empresários etc.)
Funcionários públicos
Essa parte costuma ser muita tranquila para quem é funcionário público, mas lembre-se das obrigações lá em cima.
Mesmo você tendo uma enorme estabilidade, pode acontecer alguns problemas que você precise de um dinheiro líquido, como saúde da família e até mesmo uma separação.
Voltando agora para os mais vulneráveis…
Funcionários da iniciativa privada
Os funcionários da iniciativa privada, apesar de não ter uma enorme estabilidade, ainda têm o dinheiro do FGTS, a multa em caso de demissão e o seguro desemprego.
Talvez alguns desses pontos você não receba caso seja demitido por justa causa, mas aí é um ponto que só você poderá dizer.
A boa notícia aqui é que quanto mais tempo você trabalha em uma empresa, menos dinheiro precisa guardar para reserva de emergência.
Eu já comentei isso no meu artigo de reserva de oportunidade, mas guardar dinheiro com liquidez diária geralmente tem um custo altíssimo no longo prazo.
A melhor coisa é sempre guardar o mínimo possível (que no geral já é um valor bem alto).
Empreendedores
Aqui realmente existe um risco complicado e que geralmente é ajustado até pelos “fazedores de fórmula”.
Infelizmente os empreendedores que tem meu enorme respeito por se aventurarem nesse mundo ainda precisam guardar mais dinheiro para a reserva de emergência do que os outros dois grupos.
Mas além disso, existe um segundo risco que talvez algumas pessoas tenham enfrentado durante algumas crises, que é o fato de o negócio acabar falindo.
Nesse caso você ainda precisa de uma saída, sendo essa ou mais dinheiro para montar um novo negócio, ou procurar emprego na iniciativa privada.
Geralmente, voltar para o mercado de trabalho costuma ser algo um pouco complicado, o mercado apesar de valorizar empreendedores nem sempre gosta de apostar em perfis assim.
Por isso…
Esteja bem preparado! Ser empreendedor é algo realmente desafiador e você precisa analisar todos os pontos para montar sua reserva de emergência junto com uma possível reserva de oportunidade.
O quanto de investimento você tem fora da reserva de emergência
Entender os pontos acima é essencial, mas existe uma chance de a sua avaliação estar um pouco exagerada demais.
Avaliar quanto você tem investido no longo prazo é uma boa maneira de medir isso.
Imagina que você tenha mais de 50% ou 60% dos seus investimentos na reserva de emergência?
Essa pode até ser uma quantia válida dependendo do problema, mas tem uma boa chance de ser alta demais.
Pensar no longo prazo também é importante e lá que costumam estar os melhores investimentos.
Quanto dinheiro a reserva de emergência precisa ter?
Bom, depois de tudo isso…
Quanto você precisaria guardar para sua reserva?
Eu fiz um exemplo para você entender um pouco melhor as minhas preocupações e conceitos na prática.
Mas vale lembrar que você ainda pode ter uma percepção um pouco diferente do problema e tudo bem.
Exemplo Marcelo (fictício)
Vamos avaliar aqui o perfil dessa pessoa imaginária.
- Trabalha como CLT há 2 anos
- Tem 2 filhos
- É casado
- 50 anos
- Tem que ajudar nas despesas dos pais mais velhos
- Apartamento já está pago
- Carro já está pago
- Usou o FGTS para quitar o apartamento
Aqui usei um exemplo bem relativamente simples para entendermos melhor.
Logo, vamos partir do ponto que uma pessoa mediana em relação ao risco precise somente de 6 meses de dinheiro de reserva de emergência, ok?
Agora vamos avaliar o risco dessa pessoa em relação à média.
CLT 2 anos | Risco alto |
2 Filhos | Rico alto |
Casado | Risco baixo |
50 anos | Risco alto |
Tem que ajudar os pais | Risco alto |
Apartamento e carro | Risco baixo |
FGTS | Risco alto |
O risco do Marcelo aqui está bem mais alto comparado a média, ele tem que ajudar os pais (aqui tem um peso bem grande), tem uma idade levemente avançada (mais dificuldade de arranjar um emprego novo) e ainda tem dois filhos.
O Marcelo precisa de uma reserva maior do que 6 meses (pelo menos na minha visão), o ideal aqui seria ter renda o suficiente para se bancar durante 1 ano inteiro (evidente que com redução nos custos).
Mas 1 ano representa uma grande quantia em relação ao dinheiro que tem guardado, sem contar que é muito dinheiro rendendo pouco.
O que fazer nessa situação?
Como “driblar” uma reserva de emergência alta?
Eu listei duas maneiras que você pode fazer para se proteger nesse caso.
Como o Marcelo não vai receber quase nada em caso de demissão, ele vai precisar deixar dinheiro para quase 1 ano inteiro na sua reserva.
Por isso, vale a pena pensar em alguma saída.
Mas vamos às opções…
Tenha uma renda passiva
A renda passiva talvez seja a melhor maneira de se proteger nesses casos.
Uma coisa que eu sempre falo aqui no blog é um estudo feito pelo Robert J. Shiller fez um estudo que mostra como os dividendos oscilam menos do que o preço das ações.
Assim, você poderia ter ações de empresas na Bolsa de Valores (ou cotas de FIIs) e receber esse dinheiro enquanto estivesse procurando outro emprego.
Esse fato é importante também porque geralmente é nos momentos de crise financeira que se perde o emprego e seria péssimo ter que vender suas ações desvalorizadas.
Claro, existem outras fontes de renda passiva hoje em dia, desde de vender livros e cursos, até se tornar um youtuber (semi passiva no caso).
“Rode” seus CDBs
Essa é uma outra opção para quem investe uma parte dos seus investimentos em renda fixa.
Na verdade ela pode demorar bastante para ser colocada em prática, mas é bastante eficiente no caso do Marcelo acima.
Se ele tivesse CDBs vencendo sempre de 6 em 6 meses ele não precisaria deixar tanto dinheiro na reserva de emergência, já que em 6 meses ele receberia uma parte do seu investimento de longo prazo.
Como um CDB costuma ter vencimentos de 3 a 5 anos, você já pode imaginar o quanto demoraria para montar uma estratégia como essa certo (já que você não vai querer abrir mão da rentabilidade) ?
Mas caso feita da maneira correta, pode ser bastante eficiente em casos que você precise de uma reserva de emergência maior do que 6 meses.
Que tipo de investimentos posso fazer?
Você já deve ter ouvido falar de todos os investimentos que eu vou falar aqui embaixo, por isso vou tentar ser bem direto ao ponto.
Mas existem algumas opções que costumam ser interessantes dependendo do objetivo.
CDB (liquidez diária)
O CDB liquidez diária é o meu investimento favorito para reserva de emergência.
Como ele está sempre vinculado a sua conta do banco acaba sendo um ótima opção e com um liquidez quase que instantânea que a maioria dos investimentos não consegue oferecer.
Tesouro Selic
O Tesouro Selic costuma ser muito comentado e dependendo do da taxa pode até ser mais interessante que o CDB com liquidez diária.
O problema é que como ele não está vinculado a sua conta corrente você acaba não tendo uma liquidez instantânea, o que dependendo da urgência pode ser um problema.
Poupança
A poupança é sempre muito criticada por todos, mas se o seu banco não oferece uma solução de CDB com liquidez diária, pode ser a melhor opção para você.
Nesses casos eu deixaria algum dinheiro na poupança por causa da questão da liquidez instantânea e só depois colocaria o restante no tesouro Selic.
Fundos de investimento de Tesouro Selic
Os fundos de investimento que aplicam quase que todo seu capital em papéis Selic também são muito comentados.
Mas estes podem ter algumas oscilações negativas ao longo dos anos, principalmente em momentos de crise.
Eu considero um investimento um pouco mais arriscado, apesar de algumas facilidades que os fundos geralmente proporcionam.
Caso você tenha interesse, veja uma outra solução para dividir esse pequeno risco que os fundos costumam ter.
Renda fixa de médio prazo
Os produtos de renda fixa de médio/longo prazo só servem se você conseguir que o vencimento deles tenha intervalos de 6 meses como eu expliquei lá em cima.
Caso não seja possível, não tem qualquer utilidade para a reserva de emergência.
Como aprender mais sobre investimentos?
Agora que você já entendeu bem como eu penso sobre a reserva de emergência, talvez queira saber mais sobre outros tipos de investimentos.
Apesar do blog focar bastante em dividendos, eu comento sobre tudo aqui, inclusive algumas teorias meio malucas.
Vou deixar aqui embaixo alguns artigos que eu gosto bastante para você dar uma olhada.
Mas qualquer coisa é só voltar para a página inicial do blog.
- O que é dividend yield? Por que ele é tão importante?
- Quais são as maiores pagadoras de dividendos da B3?
- Como escolher o benchmark do seus investimentos?
Até mais!